Maria sempre foi indelicada, tímida, curiosa e desajeitada demais para uma menina. Ela era tão menina!
Cresceu ouvindo o melhor do que puderam lhe oferecer na época, ouviu muitos “contos”, aprendeu e os decorou... Sonhava, dançava, traçava histórias de sua vida, carregou seus sonhos até onde conseguiu carregá-los. Ela acreditava, ela acreditou até viver outra história. Ela era tão menina...
Cresceu complicada, e complicava-se mais e mais, na mesma proporção em a vida lhe batia. Andava pelas noites como um cão sem dono, o delírio já era constante, em meios tantas esquinas ela podia ouvir o medo sussurrando-lhe, mas se mostrava forte com suas garrafas e injeções. Quando não entrava em viagens distorcidas, Maria se transformava em uma menina apaixonada pelo céu e estrelas, tão doce, com os olhos queimando de paixão. Conseguia mesmo que por pouco tempo se limpar de toda aquela sujeira, levantar-se do poço de mágoas, no meio da água lodosa emergia a flor mais pura e esperançosa; A Maria de todas as Marias.
Maria antes de se entristecer com a vida, se lamentava por não ter asas, sonhava em ser um passarinho, para poder voar livre pelo céu. Ela se emburrava por saber que nunca teria a sensação de voar. Todo final de tarde de um domingo, sentava perto da janela para ouvir blues, Maria melancólica tentava forçar o seu próprio choro, queria se debulhar em lágrimas, dizia que aquele som era muito bonito para não chorar, pensava que só com lágrimas era possível demonstrar os mais verdadeiros e profundos sentimentos, porém nenhuma lágrima molhava seus olhos.
Maria não chorava e nunca chorou, nem mesmo com acontecimentos trágicos, mas sabia que por dentro a sua alma estava inundada de lágrimas.
Ela acabou conquistando o mundo para se sustentar, e vivia um pesadelo. Entre a solidão e o suicídio, vivia debilitada. Se considerava uma pessoa covarde por não conseguir dar fim a sua vida.
Maria ainda tinha resquícios de esperança, mesmo que não aceitasse, ela ainda acreditava na vida. Era tão menina...
Numa noite fria; Maria estava quieta, balbuciava, dizia que queria "desnascer", queria ir embora sem sequer se despedir, ela não conseguia achar razão para tanto sofrimento. Repentinamente Maria, começou a perder o fôlego, - ela está cansada, olha para o céu e sorri, - ela tinha todo o universo em seus olhos, pela primeira vez na vida, suas preces foram atendidas e pela primeira vez conseguiu chorar. Pálida, com os olhos abertos e marejados, com um leve sorriso torto na face... Ela conseguia ouvir uma música, até que ao fim; desfaleceu... Morreu entre um gozo e uma dor.
Maria... Ela era tão menina, tão ingênua, nunca amou, nunca recebeu uma carta, não estudou, não conheceu o mar, não pôde voar. Maria se foi e ela era tão menina.
Maria menina, a Maria de todas as Marias!
...
Por Társis Farias, um dos contos de minhas Marias...
P.s.: Este texto está devidamente registrado e patenteado. Qualquer cópia indesejada será denunciada. Dê crédito ao autor. Plágio é crime!
Att.
Társis Farias
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